Por Monica Villela Grayley
A crise política e de segurança na República Democrática do Congo é uma “catástrofe anunciada”, segundo o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz.*
Ele comandou as forças de paz da ONU no país africano de 2013 a 2015, quando os rebeldes do M23 foram repelidos pelas tropas de Santos Cruz numa outra tentativa de assumir o controle do leste da nação africana.
Interesse principal em minerais
O M23 é um grupo rebelde apoiado por Ruanda, o país vizinho, que diz ter tomado a cidade de Goma no domingo após intensificar a ofensiva na região no início deste ano.
Nessa entrevista à ONU News, de Brasília, Santos Cruz afirmou que a violência no leste do Congo passa pela riqueza mineral da região.
“Qualquer justificativa que se tenha nos comunicados daqueles interessados é para encobrir o interesse principal que é a ocupação da região extremamente rica do leste do Congo, de onde são extraídos e contrabandeados quase 100% do ouro, do coltan e de outros minerais. E são exportados depois de fazer a falsificação e a lavagem da documentação para exportação internacional.”
O coltan ou tântalo é usado na manufatura de dispositivos eletrônicos como aparelhos celulares. A representante especial do secretário-geral na RD Congo, Bintou Keita, disse que o M23 fatura uma quantia estimada de US$ 300 mil mensais com a comercialização do mineral.
Ruanda e RD Congo divergem sobre situação
No domingo, o Conselho de Segurança da ONU realizou uma sessão extraordinária para discutir a tensão na RD Congo com a presença da ministra das Relações Exteriores do país, Thérèse Kayikwamba Wagner. Ela disse que Ruanda está tentando promover uma “atrocidade” na RD Congo ao apoiar a ofensiva do M23.
A chefe da diplomacia congolesa pediu a atuação imediata da comunidade internacional para socorrer os congoleses e sinalizou que o mundo estava de olho na situação.
Já o representante de Ruanda nas Nações Unidas afirmou que o seu país era quem estava tendo a segurança ameaçada e que a RD Congo não poderia “terceirizar a solução” do problema ao “apoiar mercenários”
Mais de 400 mil congoleses fugiram da violência
Segundo as Nações Unidas, mais de 400 mil congoleses foram obrigados a fugir de suas casas desde que os combates entre os rebeldes e o Exército da RD Congo se intensificaram.
No fim de semana, um ataque do M23 matou três boinas-azuis da ONU: dois da África do Sul e um do Uruguai. Outros 11 ficaram feridos.
O secretário-geral condenou as mortes e disse que a tensão ameaça toda a região dos Grandes Lagos.
Nesta segunda-feira António Guterres condenou também a tomada de Goma pelo M23.
O Conselho de Segurança exige o M23 reverta sua expansão territorial sem demora.
Sanções e força militar devem ser aplicadas já
Para o General Santos Cruz, a hora de apelos já passou. O Conselho de Segurança deve agir com sanções e uso da força para retirar os rebeldes do território alheio e penalizar quem está patrocinando a violência.
“É tempo de o Conselho de Segurança da ONU aplicar as sanções e resolver essa crise. Hoje, não é possível a participação intensa do componente militar com o estado ao qual chegou o problema. Exige uma solução política. E isso pode ser resolvido aplicando, imediatamente, o máximo de sanções possíveis sobre as lideranças irresponsáveis que conduzem esse movimento e que apoiam esses movimentos sejam elas de qualquer nível”.
Relatório Santos Cruz sobre violência
O general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz comandou a Missão da ONU na RD Congo por dois anos e meio após ser o chefe das forças da ONU no Haiti.
Ele é também o autor do Relatório Santos Cruz que avalia atos de violência contra forças de paz na ONU no mundo.
*As afirmações emitidas nessa artigo são atribuídas aos entrevistados e não refletem a opinião das Nações Unidas.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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