Em Cabo Verde, a estação seca transforma a ilha de Santiago em uma paisagem de tons castanho-claros. Apesar do nome, o país não é assim tão verde nesta época do ano. O calor aumenta gradualmente até julho, quando a estação das chuvas deveria começar. Durante esse período, a água se torna o recurso mais precioso para os agricultores. 

Quando as reservas da última estação chuvosa se esgotam, eles são obrigados a comprar água, impactando seus lucros. Para enfrentar esses desafios, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, em parceria com o Programa de Cooperação Sul-Sul FAO-China, oferece treinamento especializado aos produtores do país insular.

Falta de água e aumento das pragas

Com o apoio da agência, Cabo Verde solicitou assistência para combater estes desafios crescentes e é exatamente isso que a China pode oferecer, tendo ela própria vivido muitas destas dificuldades no seu país.

Os projetos de Cooperação Sul-Sul combinam as tecnologias e a experiência dos países visitantes com as necessidades e os pedidos dos países anfitriões, transferindo conhecimentos e competências através de parcerias. A China transmite a Cabo Verde o que aprendeu nas suas próprias paisagens rurais, muito semelhantes às do interior desta pequena ilha.

Atualmente, uma das principais formas de produzir água doce nesta ilha cercada pelo Oceano Atlântico é a dessalinização. Como em muitos países, as temperaturas estão aumentando e a precipitação está diminuindo, tornando os agricultores mais dependentes de outras fontes de água. No entanto, a compra de água reduz seus lucros.

Desafios da agricultura

Com as alterações climáticas, a erosão do solo aumentou e a fertilidade do solo diminuiu. Além disso, o aumento das temperaturas fez de Cabo Verde um ambiente propício para novas pragas se desenvolverem. 

A lagarta-do-cartucho chegou em 2017 e, desde então, tem causado estragos nas plantações de milho. As moscas da fruta, que atacam sobretudo as colheitas de manga, e as larvas do tomate, cujo nome deriva do seu alvo preferido, são outros inimigos.

Willy e Nena, agricultores da ilha de Santiago, trabalharam juntos nas terras que também foram afetadas por pragas. A dedicação dos dois e a vontade de aprender novas formas de trabalho abriram portas para o convite que receberam do ministério da Agricultura do país, para que participassem de uma formação sobre gestão de solos e controle de pragas. 

© FAO /  Giuseppe Carotenuto

Nena, agricultora da ilha de Santiago, em Cabo Verde

Combater as pragas com inovação

O especialista em horticultura e solos enviado pelo Ministério da Agricultura e dos Assuntos Rurais da China, Yanhua Zeng, explica que agora Willy aprendeu a reconhecer a falta de nutrientes e como aumentar a produção das culturas. 

Desde que Willy recebeu a formação, ele tem trabalhado com todos os outros agricultores para partilhar os seus conhecimentos e o que aprendeu com os especialistas, disseminando-os ainda mais. Este é um objetivo do projeto, que a formação transmitida aos agricultores seja ainda mais difundida pelos próprios agricultores.

O ritmo e a batalha da produção animal

Um pouco mais a norte, na ilha de Santiago, Celestina Tavares vive da produção de coalhada. Para ela e seu pai Francisco, a principal preocupação é o custo cada vez mais elevado dos alimentos para animais. No país insular, a maioria da ração é importada. 

Assim como muitos Sids, Cabo Verde importa a maior parte dos seus produtos alimentares. Isto torna o país muito vulnerável a choques no mercado que afetam os preços dos alimentos e das rações. Nos últimos dois anos, registrou-se uma série destes fenômenos, e isto teve um enorme impacto nos rendimentos das famílias e nos níveis de pobreza.

Outra preocupação é a escassez de água, já que os animais precisam de água. Celestina explica que a dificuldade que também enfrentam é a falta de chuva e a necessidade de transportar água.

O perito em pecuária enviado pelo Ministério da Agricultura e dos Assuntos Rurais da China, Zhiqi Li, fornece uma formação para Celestina e o pai que utiliza uma prática para a agricultura circular. Ele ensina ainda formas de utilizarem o que têm nas suas terras e de reduzirem os seus custos, mantendo mais do seu rendimento para outras necessidades.

Com a escassez de terras neste arquipélago de ilhas, a maioria das populações rurais possui gado, mas não explorações agrícolas. Os animais são a principal fonte de rendimento. Cerca de 85,6% da população rural dedica-se à produção de gado.

© FAO /  Giuseppe Carotenuto

Celestina Tavares vive da produção de coalhada. Para ela e seu pai Francisco, a principal preocupação é o custo cada vez mais elevado dos alimentos para animais

Enfrentar desafios através da sustentabilidade

De acordo com o a FAO, este é o caminho para o futuro da ilha: encontrar formas mais sustentáveis de utilizar os recursos hídricos, que estão diminuindo, reduzir a dependência das importações e dos preços, por vezes voláteis, e aprender novos métodos para lidar com as pragas e outras consequências do aumento das temperaturas.

As alterações climáticas nos Estados insulares são palpáveis. Estão na mente de todos os agricultores e fazem parte da sua realidade quotidiana. As inovações, o compartilhamento de conhecimentos e as práticas replicáveis são fundamentais para enfrentar estes desafios.

Com todos os países lutando contra as alterações climáticas de formas diferentes, é fundamental que as experiências e soluções sejam partilhadas entre eles. Parcerias como a FAO-Cabo Verde-China ajudam a levar soluções quotidianas aos agricultores e pequenos produtores de gado do país.

Troca de experiências 

A representante da FAO em Cabo Verde, Ana Laura Touza, ressalta o “olhar com olhos cabo-verdianos, trazendo a experiência chinesa”. Para ela, isto é muito valioso porque “países que enfrentaram situações semelhantes e encontraram soluções possíveis vêm partilhá-las”.

A agência destaca que a simplicidade é a chave da inovação e é a melhor solução quando se fala de métodos que podem ser implementados e replicados de forma fácil, barata e eficaz. 

Este tipo de práticas que têm impacto nos alimentos produzidos e no dinheiro depositado podem ser uma razão para manter os jovens cabo-verdianos nas suas impressionantes paisagens rurais, que os turistas vêm de longe para ver. 

*Com reportagem da FAO

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

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