Guterres pede a EUA que repense cortes severos de financiamento à ONU

O líder das Nações Unidas, António Guterres, expressou “profunda preocupação” com informações recebidas nas últimas 48 horas por agências da ONU e diversas organizações humanitárias sobre “cortes severos” no financiamento por parte dos Estados Unidos.

Em declaração a jornalistas, ele afirmou que essas medidas impactam uma ampla gama de programas essenciais que vão desde ações que salvam vidas, até apoio a comunidades vulneráveis ​​que se recuperam de guerras ou desastres naturais.

Pedido de reconsideração

Para Guterres, os cortes também terão impacto na luta contra o terrorismo e contra o tráfico ilícito de drogas e podem contrariar os interesses americanos no mundo.

Ele enfatizou que a implementação destes cortes tornará o mundo “menos saudável, menos seguro e menos próspero”. Para ele, a redução do papel e da influência humanitária dos Estados Unidos pode não ser útil.

O secretário-geral disse esperar que estas decisões sejam revertidas com base em “análises mais cuidadosas”, e pediu que o mesmo se aplique a outros países que anunciaram recentemente cortes em ajuda humanitária e programas de desenvolvimento.

António Guterres diz que todas as agências das Nações Unidas estão prontas para fornecer as informações e justificativas necessárias para os seus projetos e disse esperar cooperar com os Estados Unidos.

Ele expressou extrema gratidão pelo papel de liderança que os Estados Unidos têm desempenhado ao longo das décadas.

Consequências arrasadoras

Guterres citou exemplos de consequências arrasadoras em locais como o Afeganistão, onde mais de 9 milhões de pessoas perderão acesso a serviços de saúde e proteção.

No nordeste da Síria, onde 2,5 milhões necessitam de assistência, a ausência de financiamento dos Estados Unidos significa que grandes parcelas da população ficarão ainda mais vulneráveis.

Na Ucrânia, a assistência em dinheiro, que era oferecida para 1 milhão de pessoas em 2024, foi suspensa em regiões-chave.

Crise do fentanil e tráfico humano

Já no Sudão do Sul, acabou o financiamento para programas de apoio às pessoas que fugiram do conflito no vizinho Sudão, deixando as zonas fronteiriças superlotadas e sob perigo.

Além disso, o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime, Unodc, será forçado a interromper muitos dos seus programas antinarcóticos, incluindo um que luta contra a crise do fentanil. A agência também terá que reduzir drasticamente as atividades contra o tráfico de seres humanos.

O financiamento de muitos programas de combate ao HIV/Aids, à tuberculose, à malária e ao cólera também foi interrompido.

Melhora da eficiência e priorização

O secretário-geral revelou que todos os coordenadores humanitários estão atualizando as estratégias para preservar o máximo possível iniciativas que salvam vidas.

Ele explicou que o Comitê Permanente Interagências, que reúne agências humanitárias da ONU e parceiros, chegou a acordo sobre um plano ambicioso para melhorar a eficiência e priorização de projetos

Guterres ressaltou que a ONU fará tudo que estiver ao seu alcance para fornecer ajuda vital às pessoas que necessitam e para diversificar o conjunto de doadores que apoiam o trabalho da organização.