A jovem indígena Rayane Xipaia acompanha com atenção as negociações da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP29, especialmente as que envolvem financiamento.
Falando de Baku no Azerbaijão, a brasileira conversou com a ONU News sobre uma maior abertura e compreensão dos negociadores em relação à temas de interesse dos povos indígenas.
Acesso a financiamento e reparação histórica
“Alguns pontos específicos, como por exemplo, alguns negociadores já colocarem dentro desses espaços das negociações a diferença entre povos indígenas e comunidades locais. E para nós isso é importante para não haver nenhum tipo de confusão, especialmente na hora do acesso a esse financiamento, quem são essas comunidades que acessam e também para não confundir, não homogeneizar todas as populações, que são populações diferentes entre si e precisam de diferentes tipos de acesso”.
A integrante do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas, adicionou que essa população é uma das que menos contribui com a crise no clima, mas uma das que mais sofre com suas consequências.
Segundo ela, o Fórum Internacional se organiza em grupos de trabalho para observar cada detalhe da linguagem e das entrelinhas dos textos em debate na COP29 que fazem referência a povos indígenas. Os membros do grupo também realizam reuniões bilaterais com negociadores.
O objetivo é incidir nas negociações de uma forma “concisa e precisa” a favor dos direitos dos povos indígenas, com ênfase na ideia de reparação histórica.
Mineração para a transição energética
Ao abordar o tema da extração de minerais críticos para a transição energética, um dos temas centrais da COP29, Rayane ressaltou a importância da consulta prévia, livre e informada com os povos indígenas e demais populações afetadas por projetos de mineração.
“Eu sou da região do Médio Xingu, no Pará, e lá a gente tem lidado nos últimos anos com essa temática de mineração. E para a gente isso é um pouco preocupante. Da forma que há, a consulta livre e prévia informada não tem sido efetivamente colocada”.
A jovem ressaltou que dentro das discussões sobre transição energética e sustentabilidade, muitos discursos ignoram a realidade vivenciada dentro dessas áreas visadas para extração de minerais. Ela defende que “as vozes de lideranças indígenas sejam mais escutadas”.
Choque de realidade na COP30
Sobre a COP30, que será no seu estado de origem, o Pará, Rayane disse que os participantes irão se deparar com um cenário de múltiplas culturas e realidades sociais, diferente da imagem que “muitas vezes é vendida” sobre a região.
“As pessoas vão observar de perto o que é a realidade amazônica e desmistificar muitas percepções que se tem sobre o que é viver dentro da Amazônia. Porque primeiramente quando a gente fala de Brasil, as pessoas associam muitas vezes à Amazônia, à povos indígenas e vão chegar lá e ver múltiplas realidades, ver inúmeras formas de vida dentro desse espaço. E eu acredito que isso por si só vai ser um choque”.
A jovem disse esperar que esse contato direto ajude a mudar a percepção sobre a Amazônia e tenha um impacto positivo nas negociações. Ela espera que a COP30 possa também “viabilizar as vozes que são esquecidas” dentro dos debates sobre a mudança do clima.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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