No segundo dia de visita oficial a Timor-Leste, o secretário-geral da ONU realizou reunião com o primeiro-ministro Xanana Gusmão.
António Guterres fez uma “emocionada homenagem” ao líder timorense pelos “sacrifícios que fez para alcançar a independência do seu país e seu povo”, incluindo seus anos como combatente e os anos preso na Indonésia, pais que ocupou Timor-Leste de 1975 a 1999.
A voz de Timor-Leste na Cúpula do Futuro
Falando a jornalistas no Palácio do Governo, em Díli, o chefe da ONU destacou os bons resultados de Timor-Leste em temas como democracia e direitos humanos, bem como sua “crescente influência” internacional.
Guterres lembrou que a nação asiática é fundadora do G7+, grupo de Estados frágeis em conflito ou pós-conflito, e em breve deve integrar o bloco regional Asean. O secretário-geral disse contar com Timor-Leste para apoiar em um processo de paz em Mianmar.
Guterres disse ao líder timorense que espera contar com a voz do país na Cúpula do Futuro, em setembro, para a construção de “um mundo em que a Carta das Nações Unidas seja respeitada”.
Atuação de Guterres como primeiro-ministro de Portugal
O líder da ONU visitou ainda o museu da resistência timorense, onde foi guiado pela exposição permanente “resistir é vencer”. Ele comentou e interagiu com diversos elementos da exibição que mostravam episódios dos quais ele participou quando era primeiro-ministro de Portugal.
Por exemplo, ele confirmou uma informação em um dos murais que dizia que Portugal ameaçou retirar forças portuguesas da Bósnia e do Kosovo e de sair da Aliança do Atlântico Norte, Otan.
O apelo foi feito na época em que diversos líderes pediam uma intervenção imediata de forças de manutenção da paz para proteger o povo de Timor-Leste da violência que eclodiu após o referendo.
O secretário-geral visitou ainda uma réplica de esconderijo usado por guerrilheiros timorenses.
Encontro com lideranças femininas
Na sequência, Guterres visitou a exposição “Mulheres de Timor-Leste”, organizada pela ONU Mulheres e que retrata histórias de vida de veteranas da resistência e defensoras de direitos.
O secretário-geral foi recebido e acompanhado por Hilda da Conceição, que nos anos da resistência tinha o codinome Lalo Imin, uma junção do nome de sua avó com uma sigla que significa “independência ou morte, integração nunca”.
Outra veterana representada na exposição era Maria Domingas “Mikato”, que organizou o primeiro Congresso de Mulheres de Timor-Leste, realizado antes do referendo de 1999. Segundo ela, nessa ocasião foi estabelecia metas de ação para assegurar direitos das mulheres, como por exemplo 30% de participação delas na vida política.
Segundo a ONU Mulheres, a lei eleitoral de Timor-Leste estabelece que 33% das listas dos partidos políticos devem ser compostas por mulheres, resultando em 38% dos assentos no Parlamento Nacional ocupados por mulheres, a taxa mais elevada na região da Ásia-Pacífico.
Reflexões sobre Gaza e Ucrânia
A última atividade do dia foi a participação de Guterres no “President Horta Show”, um programa de TV apresentado pelo presidente timorense. A gravação contou ainda com a presença do primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
Guterres destacou suas ações como primeiro-ministro de Portugal para apoiar a independência em Timor-Leste. Segundo ele, os fatores que tornaram possível o referendo e a intervenção de paz pós referendo foram a “afirmação coletiva do povo com total determinação, que não poderia deixar de triunfar” e o fato de que não havia divisões geopolíticas fundamentais naquela época de supremacia americana.
Além disso, o líder da ONU expressou sua frustração com a guerra na Ucrânia, que representa uma violação da Carta da ONU e do direito internacional por um país membro permanente do Conselho de Segurança.
O secretário-geral mencionou também Gaza, como um exemplo da incapacidade do Conselho de Segurança de proteger populações afetadas por conflitos. Sob aplausos do auditório, Guterres lembrou que assim como ocorrido em Timor-Leste, o povo palestino também tem direito à autodeterminação e a um estado próprio.
O exemplo timorense da reconciliação
O primeiro-ministro destacou que durante sua prisão na Indonésia viu o sofrimento dos prisioneiros e no contato com eles chegou à conclusão de que o problema não era com os indonésios e sim com o regime.
O presidente José Ramos Horta enfatizou como levou a experiência de Timor-Leste com reconciliação para outros contextos de conflito, como a Colômbia, onde a pedido do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, ajudou a mediar a libertação de 15 jovens capturados pelo Exército de Libertação Nacional em 1997.
Ele lembrou que durante os muitos anos de luta armada em Timor-Leste, nunca houve rapto ou ataques contra civis indonésios.
Xanana Gusmão mencionou que muitas vezes no contexto do conflito, os guerrilheiros comandados por ele prestavam cuidados médicos a soldados indonésios feridos, algo que ele próprio alegou ter feito duas vezes.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
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