A oito meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, que será no Brasil, o presidente do evento, André Corrêa do Lago, realiza reuniões na sede da ONU em Nova Iorque.

Em entrevista para a ONU News, o embaixador afirmou que sua meta é escutar outros países para “desenvolver a COP30 na direção mais construtiva possível”. Ele ressaltou o desafio de conduzir as negociações em um “cenário complexo”, com países divididos sobre a pauta climática.

Na ONU, presidente da COP30 diz que é hora de ajustar trajetórias erradas no clima

Aposta no multilateralismo

“Todos nós estamos sendo afetados pela mudança do clima e todos nós estamos aprendendo. Ninguém seguiu o caminho certo até agora. Ou seja, os países desenvolvidos se desenvolveram. Alegam que eram inconscientes da questão do clima, mas a verdade é que não existe um modelo correto de desenvolvimento. Existem muitos modelos incorretos e nós temos que aprender juntos, porque ainda dá tempo”.

Para o negociador brasileiro, é possível ajustar trajetórias de desenvolvimento que foram “em direções muito erradas”, resultando na crise climática. Ele afirmou que o Brasil está convencido de que a melhor maneira de tratar esse assunto é “fortalecendo o multilateralismo e aumentando o diálogo”.

Sobre o desafio de ampliar o financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais para US$1,3 trilhão até 2035, conforme acordado na COP29, ele disse que é preciso haver um redirecionamento de prioridades.

“A verdade é que nós não temos ainda uma fórmula que permita assegurar que serão conseguidos esses recursos. Mas não há a menor dúvida de que existem os recursos no mundo e a questão é que eles estão geralmente dirigidos para investimentos que não tomam em consideração o impacto da mudança do clima”.

O aumento do uso de combustíveis fósseis é inconsistente com a limitação do aquecimento global

Eliminação de combustíveis fósseis

O diplomata destacou que a presidência do Brasil, em 2024, no G20, o grupo das maiores economias globais, contribuiu para “integrar a questão do clima na economia mundial”, um esforço que ele afirma que deve continuar até a COP30.

Quando perguntado se a Conferência irá reforçar a decisão tomada na COP28, em Dubai, sobre eliminação gradual dos combustíveis fósseis, Corrêa do Lago explicou que o consenso alcançado é sólido.

“Temos que lembrar que o que é decidido numa COP ganha um status de aprovação por consenso, que todos os países do mundo concordaram com isso. Alguns países querem reiterar, alguns países querem repetir. A gente até entende, mas eu acho que o importante é a implementação, porque eu acho que uma grande frustração no mundo é que às vezes você vê documentos sendo assinados nas Nações Unidas e depois, naquele furor de negociação, você já quer negociar uma outra coisa em vez de executar aquilo que foi assinado”.

O embaixador afirmou que há uma “convicção muito grande” dos países de que cada um deve fazer a transição dos combustíveis fósseis à sua própria maneira. Isso envolve “preservação da soberania”, mas também apoio internacional para evitar impactos sociais negativos, como aumentos no preço da energia.

Escuta dos povos indígenas será “grande conquista” da COP30

A COP30 será realizada na cidade de Belém, uma das portas de entrada para a Amazônia brasileira. A região abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. A escolha do local também representa uma oportunidade para que os povos indígenas tenham mais protagonismo nas negociações climáticas.

“Há uma necessidade muito grande, eu acho, de nós aceitarmos que os povos indígenas têm que ter opinião não só sobre aquilo que toca os povos indígenas, mas sobre a própria maneira como o mundo está evoluindo. Então, eu acho que essa escuta dos povos indígenas vai ser uma das grandes conquistas dessa COP”.

O embaixador ressaltou que a mudança do clima revelou o quanto as populações indígenas souberam conviver de forma harmônica com a natureza durante milênios. Ele disse esperar que a integração de conhecimentos tradicionais desses povos nativos ajude a construir um equilíbrio para a região amazônica.

Pnuma/Florian Fussstetter

O chefe Joel Puyanawa diz que as técnicas agrícolas tradicionais, incluindo o plantio de árvores de madeira dura, ajudaram a limitar o desmatamento no território Puyanawa

Uma nova visão para a Amazônia

Para Corrêa do Lago, existe um “acúmulo de percepções equivocadas” com relação à Amazônia, bem como de erros cometidos no passado. Ele afirmou que a COP30 deve representar uma “nova visão” e um projeto de desenvolvimento que leve em consideração as características excepcionais da Amazônia.

“A gente está muito nessa direção para Belém, do quanto é possível tornar realidade os documentos que nós estamos assinando. Então, eu acho que vai ser muito interessante conseguir reconquistar a confiança do mundo de que essas negociações não levam apenas a papéis e sim a coisas efetivas que mudam realmente a atitude do mundo com relação à mudança do clima”.

Ele afirmou que os países não devem ter apenas uma “visão romântica” das florestas, mas perceber o papel “absolutamente central” delas no combate à mudança do clima.

O embaixador concluiu ressaltando a seriedade da emergência que o mundo atravessa e que a COP30 deve buscar “um ritmo que seja proporcional aos acontecimentos climáticos terríveis” vistos no ano passado, inclusive no Brasil. 

Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).

To submit your press release: (https://www.globaldiasporanews.com/pr).

To advertise on Global Diaspora News: (www.globaldiasporanews.com/ads).

Sign up to Global Diaspora News newsletter (https://www.globaldiasporanews.com/newsletter/) to start receiving updates and opportunities directly in your email inbox for free.