As conquistas sociais alcançadas nas últimas décadas estão sob risco diante de uma combinação perigosa de crises econômicas, conflitos, mudanças climáticas e desigualdade crescente.
Essa é a principal conclusão do Relatório Mundial Social de 2025, divulgado pelas Nações Unidas nesta quinta-feira.
Abalos dos choques externos
O estudo revela que mais de 690 milhões de pessoas vivem atualmente em pobreza extrema, sobrevivendo com menos de US$ 2,15 por dia.
Além disso, cerca de 2,8 bilhões, mais de um terço da população mundial, vivem com rendas entre US$ 2,15 e US$ 6,85 por dia, o que as torna extremamente vulneráveis a qualquer choque externo, como uma crise econômica ou desastre natural.
O relatório indica que mesmo pequenos choques podem empurrar milhões para a pobreza extrema, ressaltando que quando elas escapam, muitas vezes é apenas de forma temporária.
Trabalho informal amplia vulnerabilidade
Viver com mais de US$ 6,85 por dia não garante segurança econômica. A maioria dos trabalhadores em países de rendas baixa e média está inserida no setor informal, sem garantias de salário justo, proteção social ou estabilidade. Em muitos casos, os trabalhadores permanecem nesse tipo de emprego ao longo de toda vida.
Nos países desenvolvidos, a situação também é preocupante, com um aumento no número de pessoas em empregos temporários, de meio período ou na chamada “economia dos bicos”, ou gig economy, muitas vezes por falta de alternativas.
O levantamento aponta que a flexibilidade, que poderia ser positiva, frequentemente ocorre às custas da segurança e dos direitos trabalhistas.
Cerca de 60% das pessoas no mundo estão muito preocupadas em perder o emprego ou não conseguir trabalho, segundo dados da World Values Survey.
Um trabalhador do setor informal come na beira da estrada em Bangkok
Mudanças climáticas e conflitos armados agravam cenário
A crise climática é outro fator que impede o avanço na erradicação da pobreza. O relatório aponta que os 50% mais pobres do planeta são responsáveis por apenas 12% das emissões globais de carbono, mas sofrem 75% das perdas relativas de renda em decorrência de eventos climáticos extremos.
Além disso, um em cada sete habitantes do planeta vive em áreas afetadas por conflitos armados, com o número de conflitos dobrando desde 2010. A combinação de violência, deslocamento e instabilidade política tem dificultado os esforços de combate à pobreza em várias regiões do mundo.
Concentração de renda acentuada
Desde 1990, a desigualdade de renda aumentou em muitos países, incluindo nos mais populosos do mundo, que são China e Índia. Atualmente, os países onde a desigualdade cresceu concentram dois terços da população mundial.
Enquanto isso, os 1% mais ricos detêm mais riqueza do que 95% da humanidade, segundo dados citados no relatório. A concentração de renda está diretamente ligada à instabilidade social e à erosão da confiança pública.
O relatório cita uma proposta para um imposto global sobre indivíduos “ultra-ricos”, apresentada pelo Brasil em 2024 no âmbito do G20, o grupo das 20 maiores economias mundiais. O imposto para bilionários, de 2% ao ano, arrecadaria de US$ 200 a US$ 250 bilhões anualmente.
Comunidades no Vietnã recebem água, saneamento e suprimentos de higiene vitais da ONU após um tufão atingir o país
Perda de confiança nas instituições e polarização ameaçam coesão social
A confiança nas instituições está em declínio na maioria dos países desde a década de 1990. Hoje, mais da metade da população mundial tem pouca ou nenhuma confiança em seus governos. Entre os jovens nascidos no século 21, essa desconfiança é ainda mais acentuada.
As redes sociais, embora tenham potencial de conectar e informar, também têm sido palco de desinformação, discurso de ódio e polarização política. Esse cenário compromete a capacidade de ação coletiva necessária para enfrentar os grandes desafios globais.
Soluções baseadas em três pilares
Diante desse panorama, o relatório propõe um novo consenso de políticas públicas centrado em três pilares: equidade, segurança econômica para todos e solidariedade.
A ONU defende que a solução não está apenas em mais políticas sociais, mas em uma reorientação profunda da forma como os países formulam suas decisões.
O relatório argumenta que a situação atual não é sustentável e que o momento exige transformações estruturais em políticas, instituições e mentalidades.
A Segunda Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, marcada para 2025, é apontada como uma oportunidade crucial para transformar essas propostas em compromissos concretos.
Source of original article: United Nations / Nações Unidas (news.un.org). Photo credit: UN. The content of this article does not necessarily reflect the views or opinion of Global Diaspora News (www.globaldiasporanews.net).
To submit your press release: (https://www.globaldiasporanews.com/pr).
To advertise on Global Diaspora News: (www.globaldiasporanews.com/ads).
Sign up to Global Diaspora News newsletter (https://www.globaldiasporanews.com/newsletter/) to start receiving updates and opportunities directly in your email inbox for free.